Taxa de desemprego sobe 6,5% no trimestre até janeiro.

O mercado de trabalho brasileiro apresentou sinais de retração no início de 2025, com a taxa de desemprego registrando um aumento de 6,5% no trimestre encerrado em janeiro. Este movimento ascendente revela uma desaceleração na recuperação econômica e representa um desafio significativo para milhões de brasileiros. O presente artigo analisará detalhadamente os principais aspectos desse crescimento no desemprego, identificando setores mais afetados, causas subjacentes, impactos econômicos e perspectivas futuras.

A Escalada do Desemprego: Panorama Atual.

Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), a taxa de desemprego no Brasil atingiu 9,2% no trimestre encerrado em janeiro de 2025, representando um aumento de 6,5% em relação ao trimestre anterior, quando a taxa estava em 8,6%. Em números absolutos, isso significa que aproximadamente 10 milhões de brasileiros estão oficialmente desempregados, um acréscimo de cerca de 600 mil pessoas em busca de ocupação.

Este resultado interrompe uma sequência de cinco trimestres consecutivos de queda na taxa de desemprego, que vinha se mantendo em trajetória descendente desde o início de 2023. O contingente de pessoas ocupadas recuou para 98,5 milhões, uma redução de 1,2 milhão de postos de trabalho em comparação ao trimestre anterior, enquanto a força de trabalho (soma de ocupados e desocupados) manteve-se relativamente estável em 108,5 milhões de pessoas.

A taxa de participação na força de trabalho — percentual de pessoas em idade de trabalhar que estão trabalhando ou procurando emprego — também apresentou leve queda, passando de 62,4% para 61,9%, indicando que alguns trabalhadores podem ter desistido temporariamente de buscar colocação no mercado.

Principais Destaques da Alta no Desemprego.

Desigualdade Regional.

A elevação da taxa de desemprego não se distribuiu uniformemente pelo território nacional. As regiões Norte e nordeste apresentaram os maiores índices, com taxas de 10,8% e 11,5%, respectivamente. Na região Nordeste, estados como Bahia (13,7%) e Pernambuco (12,9%) destacaram-se negativamente, com níveis significativamente acima da média nacional.

Em contraste, o Sul manteve a menor taxa de desemprego entre as regiões, com 6,7%, mesmo tendo registrado aumento de 0,4 ponto percentual no período. A região Sudeste, principal polo econômico do país, viu sua taxa subir para 9,0%, com destaque para o estado do Rio de Janeiro, que atingiu 10,3%.

Setores Mais Afetados.

A análise setorial revela que o comércio foi o segmento que mais perdeu postos de trabalho, com redução de aproximadamente 420 mil vagas no trimestre. Este resultado está diretamente relacionado ao término do período de contratações temporárias para as festas de fim de ano, um fenômeno sazonal que se repete anualmente, mas que apresentou uma intensidade maior neste ciclo.

O setor de serviços, que vinha sendo o principal motor da geração de empregos nos últimos trimestres, também mostrou desaceleração, com perda de 320 mil postos. Particularmente afetados foram os subsetores de alimentação e hospedagem, que tradicionalmente absorvem mão de obra menos qualificada.

A indústria de transformação registrou redução de 150 mil postos de trabalho, com destaque negativo para os segmentos têxtil e de vestuário. Por outro lado, a construção civil apresentou certa resiliência, com pequena redução de 45 mil vagas, após ter registrado crescimento nos trimestres anteriores.

Precarização e Informalidade

Um aspecto preocupante revelado pelos dados é o aumento da taxa de informalidade, que atingiu 38,9% da população ocupada, representando aproximadamente 38,3 milhões de trabalhadores sem carteira assinada ou CNPJ. Este número indica um crescimento de 0,7 ponto percentual em relação ao trimestre anterior.

A precarização se manifesta também no crescimento do chamado “subemprego por insuficiência de horas trabalhadas” — pessoas que trabalham menos de 40 horas semanais, gostariam de trabalhar mais e estão disponíveis para isso. Este contingente aumentou 8,2%, chegando a 6,8 milhões de pessoas.

O número de trabalhadores desalentados — aqueles que desistiram de procurar emprego por não acreditarem que possam encontrá-lo — também cresceu, atingindo 4,1 milhões de pessoas, um aumento de 3,8% em relação ao trimestre anterior.

Perfil dos Desempregados

Os dados mostram que a alta do desemprego afetou de maneira desigual diferentes grupos populacionais:

  • Jovens entre 18 e 24 anos continuam sendo os mais afetados, com taxa de desemprego de 19,8%, representando um aumento de 1,2 ponto percentual;
  • Mulheres enfrentam uma taxa de desemprego de 11,7%, significativamente maior que a dos homens (7,3%);
  • A taxa de desemprego entre pessoas pretas (11,5%) e pardas (10,4%) permanece consideravelmente acima da observada entre pessoas brancas (7,2%);
  • Trabalhadores com menor escolaridade (ensino fundamental incompleto) apresentam taxa de desemprego de 9,9%, enquanto aqueles com ensino superior completo enfrentam taxa de 5,6%.

Impactos na Economia do País

Redução do Consumo e Circulação de Riqueza.

O aumento do desemprego e a consequente redução da massa salarial têm impacto direto no consumo das famílias. Segundo a CNC, a queda na massa de rendimentos poderá provocar uma diminuição de cerca de R$ 12 bilhões no consumo familiar durante o primeiro trimestre de 2025.

Os setores mais sensíveis à redução do consumo, como varejo não alimentar, serviços pessoais e lazer, já começam a sentir os efeitos, com queda média de 3,2% nas vendas em janeiro em comparação ao mesmo mês do ano anterior, segundo dados preliminares.

O comércio varejista, especialmente nas categorias de bens duráveis e semiduráveis, reporta redução nas vendas e aumento nos níveis de estoques. O setor de eletroeletrônicos, por exemplo, registrou queda de 5,7% nas vendas em janeiro, enquanto o segmento de vestuário e calçados apresentou retração de 4,3%.

Impacto no Sistema Financeiro.

O mercado financeiro reagiu ao aumento da taxa de desemprego com certa apreensão. Nos dias seguintes à divulgação dos dados, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, registrou queda acumulada de 2,3%, refletindo a preocupação dos investidores com o cenário econômico.

As instituições financeiras também demonstram preocupação com o possível aumento da inadimplência. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a taxa de inadimplência das pessoas físicas já apresentou leve alta em janeiro, atingindo 5,3%, frente aos 5,1% registrados em dezembro de 2024.

Fonte:

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