A Petrobras, gigante do setor petrolífero brasileiro, apresentou resultados financeiros que revelam uma significativa redução em seu lucro líquido, gerando preocupações no mercado e entre investidores. Esta queda de 70% nos lucros representa um momento desafiador para a empresa que, historicamente, tem sido um dos pilares da economia brasileira.
Panorama da Queda nos Lucros
No mais recente balanço financeiro, a Petrobras registrou um lucro líquido de R$ 33,3 bilhões, valor expressivamente menor quando comparado aos R$ 110,6 bilhões obtidos no mesmo período do ano anterior. Esta redução de 70% reflete uma combinação de fatores externos e internos que impactaram diretamente as operações da companhia.
A queda ocorreu apesar do volume de produção ter se mantido relativamente estável, com aproximadamente 2,78 milhões de barris de óleo equivalente por dia. A receita operacional da empresa também sofreu uma contração significativa, caindo para R$ 390 bilhões, em comparação com R$ 512 bilhões no período anterior.
O EBITDA ajustado, indicador importante que representa o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, apresentou redução de 42%, totalizando R$ 179 bilhões contra R$ 307 bilhões em 2023. Este indicador é particularmente relevante por demonstrar a capacidade da empresa de gerar caixa através de suas atividades operacionais principais.
Principais Fatores que Contribuíram para a Queda dos Lucros.
Redução dos Preços Internacionais do Petróleo
O mercado global de petróleo experimentou uma significativa volatilidade, com o preço médio do barril do Brent caindo para aproximadamente US$ 75, representando uma redução de cerca de 18% em relação ao ano anterior, quando o preço médio estava em torno de US$ 92. Esta queda no preço da commodity impactou diretamente as margens de lucro da Petrobras, considerando que grande parte de sua receita provém da exportação de petróleo bruto.
Política de Preços e Controle de Reajustes.
A nova política de preços implementada pela empresa, que desvinculou parcialmente os valores praticados no mercado interno das cotações internacionais, também contribuiu para a redução das margens. A Petrobras manteve os preços dos combustíveis mais estáveis no mercado doméstico, mesmo em períodos de alta do dólar, o que resultou em menor rentabilidade nas operações de refino e distribuição.
Aumento dos Custos Operacionais
Os custos operacionais da companhia aumentaram significativamente, com destaque para:
- Elevação nos custos de extração (lifting cost) em aproximadamente 15%, chegando a US$ 9,40 por barril;
- Aumento nos custos de manutenção das plataformas e refinarias, que cresceram cerca de 22%;
- Incremento nas despesas com pessoal, que subiram 8% após os reajustes salariais negociados com os sindicatos.
Provisões e Contingências
A Petrobras precisou aumentar suas provisões para contingências jurídicas e ambientais, totalizando aproximadamente R$ 18 bilhões. Este valor inclui processos relacionados a:
- Questões ambientais derivadas de incidentes operacionais;
- Disputas trabalhistas após reestruturações internas;
- Processos tributários em diferentes esferas governamentais.
Investimentos em Transição Energética
Os investimentos realizados pela empresa em projetos de transição energética, embora estratégicos para o futuro, também pressionaram os resultados financeiros de curto prazo. A Petrobras destinou cerca de R$ 12 bilhões para iniciativas relacionadas a:
- Desenvolvimento de biocombustíveis;
- Pesquisas em hidrogênio verde;
- Expansão da capacidade de geração de energia renovável.
Impacto da Taxa de Câmbio.
A flutuação do dólar também contribuiu negativamente para os resultados, considerando que parte expressiva da dívida da Petrobras está denominada em moeda estrangeira. A desvalorização do real frente ao dólar em aproximadamente 7% ao longo do período gerou perdas cambiais significativas.
Impactos no Faturamento e na Estrutura Financeira da Empresa
Redução da Receita por Segmento
A análise setorial revela que todos os principais segmentos de negócio da Petrobras sofreram redução em seus faturamentos:
- Exploração e Produção: queda de 23%, passando de R$ 290 bilhões para R$ 223 bilhões;
- Refino e Distribuição: redução de 18%, com receitas caindo de R$ 185 bilhões para R$ 152 bilhões;
- Gás Natural: contração de 12%, com o faturamento diminuindo de R$ 37 bilhões para R$ 32,5 bilhões.
Ajustes na Política de Dividendos.
Como consequência direta da redução dos lucros, a distribuição de dividendos aos acionistas também sofreu expressiva redução. Os dividendos pagos caíram aproximadamente 65%, totalizando R$ 27 bilhões contra R$ 78 bilhões no ano anterior. Esta redução afetou tanto os investidores privados quanto o governo federal, sendo o acionista majoritário da companhia.
Impacto no Valor de Mercado.
O valor de mercado da Petrobras sofreu uma redução significativa, com suas ações preferenciais e ordinárias apresentando desvalorização média de 25% no período. Esta queda no valor das ações reflete a preocupação dos investidores com a capacidade da empresa de recuperar suas margens de lucro no curto prazo.
Endividamento e Alavancagem
Embora a dívida líquida da empresa tenha apresentado leve crescimento, passando para R$ 65 bilhões, a relação dívida líquida/EBITDA subiu para 1,2x, comparado a 0,8x no período anterior. Este aumento na alavancagem, ainda que em patamares considerados saudáveis para o setor, indica uma diminuição na capacidade de geração de caixa em relação ao endividamento.
Redução dos Investimentos Programados
A Petrobras anunciou uma revisão em seu plano de investimentos, com redução de aproximadamente 10% no montante originalmente previsto para os próximos cinco anos. Os investimentos, que estavam estimados em US$ 78 bilhões, foram ajustados para US$ 70 bilhões, com postergação de alguns projetos considerados não essenciais no curto prazo.
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