Finanças e economia

Inflação faz 58% dos brasileiros comprarem menos.

A inflação voltou a ser uma protagonista incômoda no cotidiano dos brasileiros em 2025. Embora o índice geral tenha mostrado certa desaceleração em relação ao ano anterior, os preços de alimentos, combustíveis, serviços e bens de consumo continuam pressionando orçamentos familiares — especialmente das camadas de renda mais baixa. Uma pesquisa do Instituto Datafolha revelou que 58% dos brasileiros reduziram a compra de alimentos, e esse número salta para 67% entre os mais pobres. Esses dados não somente reforçam o peso da inflação no dia a dia, como também escancaram o impacto direto sobre o padrão de vida da população.

Nesse contexto, este artigo analisa em profundidade os efeitos do aumento dos preços sobre o comportamento de consumo, os ajustes feitos pelas famílias, os setores mais afetados e o que esperar para os próximos meses. A combinação entre a política de juros elevados, inflação persistente e baixo crescimento econômico forma o pano de fundo desse fenômeno que, embora cíclico, tem reflexos duradouros sobre a economia real.

Impactos aos consumidores!

A inflação é um dos fenômenos econômicos mais sentidos pela população, ao afetar diretamente o poder de compra. Quando os preços sobem e os salários permanecem estagnados, o resultado é a compressão do consumo. Segundo o Datafolha, além da queda na compra de alimentos, 61% das pessoas passaram a sair menos para comer fora, 50% trocaram o café por marcas mais baratas e 49% reduziram o próprio consumo da bebida, considerada um item simbólico na dieta brasileira.

Esse comportamento de substituição ou corte atinge diversos segmentos:

  • Alimentação no domicílio. As famílias passaram a optar por marcas genéricas ou a reduzir a variedade de produtos no carrinho de compras. Itens como carne, leite, frutas e hortaliças são priorizados somente em ofertas.
  • Alimentação fora do lar: restaurantes, bares e lanchonetes vêm sofrendo queda na frequência, afetando o faturamento do setor de serviços, especialmente nas grandes cidades.
  • Produtos não essenciais. Vestuário, cosméticos, eletrônicos e lazer também estão sendo preteridos em favor dos gastos básicos.

A perda do poder de compra não se distribui de forma homogênea: enquanto famílias com renda mais alta podem remanejar orçamentos e adiar gastos, as de renda mais baixa não têm essa flexibilidade. A inflação, portanto, aprofunda desigualdades ao afetar desproporcionalmente quem já tem menos margem para manobra.

Cesta básica como termômetro da crise.

O aumento da inflação de alimentos é um dos vetores mais agressivos do atual cenário. Em diversas capitais, o custo da cesta básica já consome entre 45% e 50% do salário mínimo, comprometendo significativamente a capacidade de consumo das famílias. De acordo com dados do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), os principais vilões dos últimos meses foram café (+77% em 12 meses), tomate (+22%), ovos (+13%) e arroz, que recentemente voltou a subir após um período de alívio.

Esses aumentos são influenciados por fatores como:

  • Problemas climáticos que afetam a produção agrícola;
  • Aumento de custos logísticos e combustíveis;
  • Demanda externa elevada, que reduz a oferta interna de produtos brasileiros exportáveis;
  • Alta do dólar, que encarece os insumos e impacta os preços ao produtor.

Além disso, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado de 12 meses está em torno de 5,6%, acima do centro da meta do Banco Central, sendo de 3%. Isso mantém a inflação como um problema estrutural, que exige medidas coordenadas para ser controlado — e, mais importante, sentido no bolso da população.

Juros altos e o poder de compra.

Para conter a inflação, o Banco Central vem mantendo a taxa Selic em níveis elevados. Atualmente em 13,75% ao ano, com possibilidade de novas altas, os juros buscam restringir a oferta de crédito e desaquecer a economia. No entanto, essa estratégia tem efeitos colaterais:

  • Financiamentos ficam mais caros, especialmente para imóveis e veículos;
  • Cartão de crédito e empréstimos pessoais se tornam menos acessíveis;
  • Empresas investem menos, freando contratações e inovações.

Ou seja, enquanto a inflação pressiona o consumo, o remédio — os juros altos — também contribui para a retração econômica. Esse círculo vicioso prejudica tanto o mercado quanto o cidadão comum, que se vê cada vez mais limitado no orçamento e no acesso a oportunidades de consumo e investimento.

Projeções futuras.

As previsões para os próximos meses não são otimistas no curto prazo. Segundo o Boletim Focus, a inflação deve continuar pressionada até o segundo semestre, com estimativas apontando um IPCA de 5,6% a 5,8% ao final de 2025 — acima da meta oficial, mas ainda no intervalo de tolerância. A expectativa de queda nos preços dos combustíveis e a desaceleração da economia global podem contribuir para conter parte da inflação, mas os alimentos devem seguir como ponto de atenção.

Além disso, a expectativa é de que o crescimento econômico brasileiro fique abaixo de 2% no ano, limitando a capacidade de recuperação da renda real. A incerteza sobre o cenário fiscal e as tensões comerciais internacionais (como a nova onda de tarifas entre EUA e China) também adicionam pressão cambial e risco inflacionário.

Para o consumidor, isso significa que os próximos trimestres continuarão exigindo ajustes de orçamento, priorização de gastos e, em muitos casos, renúncia a consumo. O poder de compra, mesmo com reajustes salariais pontuais, não deve se recuperar no curto prazo.

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