A maior criptomoeda do mundo voltou aos holofotes nesta primeira semana de abril de 2025 — mas, desta vez, pelos motivos errados. Após meses de estabilidade relativa e retomada gradual de confiança por parte dos investidores, o Bitcoin (BTC) apresentou uma queda expressiva de mais de 5,5% em um único dia, atingindo seu menor valor no ano: US$ 78.100. A notícia não só movimentou os mercados internacionais, como reacendeu os debates sobre a resiliência do mercado cripto frente às tensões macroeconômicas globais.
Esse recuo não ocorre isoladamente. Ele está atrelado a uma série de acontecimentos econômicos, políticos e técnicos que, combinados, criaram um ambiente de incerteza para os investidores. Este artigo analisa os principais vetores que levaram a essa desvalorização, discute as perspectivas para o curto e médio prazo e destaca como esse cenário pode impactar o investidor brasileiro.
O mercado financeiro global foi fortemente impactado pelas declarações recentes do presidente dos EUA, Donald Trump, que anunciou a imposição de novas tarifas sobre produtos chineses, totalizando até 50% sobre determinadas categorias. A retaliação por parte da China foi imediata, com promessas de sanções cruzadas.
Esse aumento nas tensões comerciais gera o chamado “efeito aversão ao risco” nos mercados. Investidores globais, diante da possibilidade de uma nova guerra comercial de larga escala, migraram seus recursos para ativos considerados mais seguros, como o dólar americano, os títulos do Tesouro dos EUA (Treasuries) e o ouro. O Bitcoin, que ainda é visto por muitos como ativo de risco, sofreu diretamente com essa fuga de capital.
Dados recentes de instituições como o FMI e o Banco Mundial apontam para uma desaceleração no ritmo de crescimento global. A Europa enfrenta dificuldades para controlar a inflação, os Estados Unidos têm apresentado números mistos de emprego e produção industrial, e economias emergentes, como o Brasil e a Índia, sentem o impacto da instabilidade cambial.
Esses indicadores, somados ao endurecimento da política monetária em várias regiões, reforçam a cautela dos investidores — especialmente em ativos como criptomoedas, que não possuem lastro tradicional e dependem fortemente da confiança.
No campo da análise técnica, o Bitcoin apresentou recentemente o fenômeno conhecido como “death cross”, quando a média móvel de 50 dias cruza abaixo da média móvel de 200 dias. Esse sinal, historicamente associado a mercados em baixa, desencadeou um volume maior de vendas automáticas por algoritmos e investidores institucionais.
Além disso, grandes carteiras (“whales”) movimentaram milhões de dólares em BTC para exchanges como Binance e Coinbase, indicando possíveis liquidações que aumentaram ainda mais a pressão vendedora.
Para quem entrou recentemente no mercado ou está exposto em alocações mais agressivas, o momento pede prudência. Analistas recomendam:
Por outro lado, investidores mais experientes e com apetite ao risco veem na baixa uma oportunidade de entrada. O Bitcoin já passou por momentos semelhantes: em 2020, caiu para menos de US$ 5.000 e, dois anos depois, chegou a mais de US$ 65.000.
Segundo relatório da Glassnode, o número de carteiras que compraram frações de Bitcoin durante a queda subiu 14% na semana. Isso indica que parte do mercado ainda vê valor estrutural no BTC e aposta em sua valorização de longo prazo.
O Brasil tem visto um crescimento exponencial no número de investidores em cripto ativos. Segundo dados da Receita Federal, mais de 5,3 milhões de brasileiros declararam ter cripto ativos no IRPF 2024, número que deve crescer em 2025.
A queda do BTC impacta esse grupo de diferentes formas:
Além disso, o real se desvalorizou frente ao dólar nos últimos dias, o que torna ainda mais custoso converter BTC para moeda local em corretoras que operam com câmbio flutuante.
O recuo recente do Bitcoin reflete não somente o humor do mercado de criptomoedas, mas sua profunda correlação com os temas que regem o cenário econômico global. Embora ainda seja visto por parte dos investidores como uma reserva de valor futura, o BTC demonstra que sua maturidade como ativo está em construção — e que sua trajetória seguirá marcada por fortes oscilações.
Investidores que desejam permanecer no mercado devem estar atentos às movimentações macroeconômicas, além de manter disciplina, gestão de risco e diversificação. Como sempre, o maior inimigo não é o mercado em queda, mas a tomada de decisão precipitada sem base em informação sólida.
Fonte:
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